13 de maio de 2014

José Vítor Malheiros e a «conveniência» de bater em todos



Em artigo no «Público» de hoje, o prestigiado jornalista, lúcido comentador e respeitável homem de esquerda José Vítor Malheiros, além de afinfar umas valentes rabecadas no PSD, no CDS e em Paulo Rangel e de destilar um ácido remoque sobre o BE, escreve isto sobre o PS:

« Vamos ter (…) doze dias de de discursos absolutamente vazios de conteúdo do PS, dando uma no cravo e outra na austeridade, sempre empenhado em atacar o governo com veemência ma non troppo, num daqueles exercícios de hipocrisia e de língua de trapos que são a razão do crescente desencanto dos cidadãos com a democracia (...)» e que «vamos ver (…) Francisco Assis (…) a tentar mostrar que qualquer política com o mínimo cheirinho de esquerda pode conduzir a um cenário dantesco e como não seria preciso muito para que o PS fizesse uma vaquinha com os partidos do governo».

Mas, depois disto, consegue escrever assim sobre a CDU :

« E ao lado [do Bloco] vamos ter a CDU, cujo esperado aumento de votos irá caucionar a sua pose isolacionista e reforçar a sua convicção de que é imprudente e precipitado sonhar com uma solução governativa à esquerda antes de 2060».

Ora, confrontando estas duas citações, pode acontecer que José Vítor Malheiros, num momento de má avaliação da inteligência dos seus leitores, provoque afinal dois tipos de reacções:

  • uma é que muitos eleitores aplaudam a atribuida «pose isolacionista» da CDU na medida em que ela significaria uma clarificadora, higiénica e saudável distância da «hipocrisia» e «língua de trapos» do PS e da sua manifesta propensão para «fazer uma vaquinha com os partidos do governo»;

    - a outra é que muitos leitores, que não vêem nenhuma pose «isolacionista» na CDU, compreendam lucidamente que o que a CDU não tem são os poderes mágicos que lhe permitam modificar a ostensiva realidade que está na origem das duras caracterizações que José Vítor Malheiros faz da orientação e postura do PS e do seu primeiro candidato a estas eleições para o PE.


Concluo dizendo apenas que não há coisa mais imobilista do que esta «conveniência » de bater em todos e esta cómoda tentação de repartir artificialmente as culpas por todas as aldeias.